Jardim Botânico - MNHN e CVRM-Centro de Geo-Sistemas do IST, email:
Citação: Figueira R (2002). Características de um biomonitor. Portal Biomonitor, http://www.jb.ul.pt/biomonitor, data da consulta.
O sucesso do desenvolvimento de um programa de biomonitorização depende em grande medida do biomonitor utilizado, uma vez que a grande variabilidade inerente ao organismo vivo pode condicionar o nível de confiança dos resultados obtidos.
O sucesso do desenvolvimento de um programa de biomonitorização depende em grande medida do biomonitor utilizado, uma vez que a grande variabilidade inerente ao organismo vivo pode condicionar o nível de confiança dos resultados obtidos. Esta variabilidade pode ser minimizada se o organismo utilizado cumprir o conjunto de propriedades com que se pode definir o biomonitor ideal (Martin e Coughtrey, 1982; Wittig, 1993):
capacidade de acumulação mensurável do elemento
químico;
distribuição generalizada na área de estudo,
permitindo a amostragem alargada e não enviezada;
ausência de variações sazonais na quantidade disponível
para amostragem;
capacidade de acumulação diferenciada do poluente, relacionada
com a intensidade de exposição ao factor ambiental. Esta
relação deve poder ser descrita de uma forma quantitativa
ou semi-quantitativa;
ausência de variações sazonais na capacidade de
acumulação;
acumulação do elemento químico apenas pela via
que se quer avaliar;
identificação taxonómica fácil;
ser suficientemente estudado (fisiologia, ecologia, morfologia).
Entre as características identificadas por Wittig (1993), é referida a ausência de perda do elemento a ser monitorizado, por lixiviação ou excreção. Esta pode ser, no entanto, uma característica penalizadora. O equilíbrio entre a concentração de um elemento no biomonitor e a concentração envolvente garante a indicação, sem enviezamento, da concentração ambiental num determinado momento. Este factor torna-se importante quando se pretende realizar a monitorização de um elemento em diferentes períodos, pois permite acompanhar a evolução da concentração ao longo do tempo.
Os líquenes e os briófitos são, provavelmente, os organismos mais utilizados em estudos de biomonitorização. Estes organismos, apesar de resultarem de linhas evolutivas bem diferentes e estarem classificados em reinos vivos distintos (os líquenes pertencem ao reino Fungi e os briófitos ao reino Planta), apresentam um conjunto de características que os favorecem como monitores ambientais (Puckett, 1988; Nimis 1990):
não possuem camadas protectoras, comuns nas folhas das plantas
fanerogâmicas, como camadas cerosas e cutícula;
a tomada de nutrientes não é normalmente realizada a
partir do substrato, que é apenas utilizado para fixação;
têm actividade fotossintética e apresentam crescimento
ao longo de todo o ano;
a morfologia não varia consideravelmente ao longo do ano;
a generalidade das espécies apresenta distribuição
em áreas geográficas muito vastas;
Os líquenes e os briófitos são organismos poiquiloídricos, apresentando taxas de hidratação directamente dependentes das variações na humidade atmosférica, por mais pequenas que estas sejam. Não possuem mecanismos ou estruturas de retenção de água, como camadas cerosas e cutícula. Absorvem água através de toda a superfície, assim como os nutrientes dissolvidos. São, desta forma, bons acumuladores de catiões que se depositem na sua superfície. No entanto, os musgos apresentam uma capacidade de acumulação superior (Wittig, 1993), provavelmente devido à maior capacidade de troca iónica, que depende da constituição bioquímica das paredes e membranas celulares. Os mecanismos de sensibilidade ao SO2 são semelhantes para ambos os grupos de organismos (Puckett, 1988).
Os líquenes e os musgos encontram-se frequentemente associados na natureza, compartilhando o mesmo tipo de habitats. São ambos organismos pioneiros, têm dimensões semelhantes e apresentam o mesmo tipo de sensibilidade aos poluentes atmosféricos, em particular ao SO2, pelo que são discutidos em conjunto em muitos trabalhos (Puckett, 1988; Sim-Sim et al., 2000).
Referências
Martin, M.H. & Coughtrey, P.J., 1982. Biological monitoring of
heavy metal pollution. Applied Science Publishers, London.
Nimis, P.L., 1990. Air quality indicators and indices: the use of
plants as bioindicators for monitoring air pollution. In: Colombo, A.
G. & Premazzi, G. (Eds.), EUR 13060 EN, pp. 93-126.
Puckett, K.J., 1988. Bryophytes and lichens as biomonitors of metal
deposition. Bibl. Lichenol., 30, 231-268.
Sim-Sim, M., Carvalho, P. & Sérgio, C., 2000. Cryptogamic
epiphytes as indicators of air quality around industrial complex in
the Tagus valley, Portugal. Factor analysis and environmental variables.
Criptogamie Bryologie, 21, 153-170.
Wittig, R., 1993. General aspects of biomonitoring heavy metals by
plants In: Markert, B. (Ed.), Plants as Biomonitors. Indicators for
Heavy Metals in the Terrestrial Environment, VCH, Wheinheim, pp. 3-27.
Iniciou-se em Dezembro de 2005 um novo projecto de investigação com o acrónimo BIOZONE apoiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia sobre biomonitorização do Ozono troposférico. Este projecto, que é uma parceria entre o Instituto Superior Técnico e o Jardim Botânico - Museu Nacional de História Natural, pretende implementar e testar os efeitos do ozono em plantas biomonitoras e na vegetação indígena da região alentejana.
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